A questão com a tensão: as emoções que guardamos nos nossos corpos

Como você experimenta a tensão? Uma queimação em algum ponto do corpo? Cansaço? Pesadez? Dor de cabeça? “Pedras” ao longo dos músculos? Tristeza? Afogo?

A continuação vou narrar algumas das coisas que sabemos sobre o corpo e como ele reage quando o intoxicamos com emoções. Também vamos aprender como o Yoga interage e apoia no processo de recuperação.

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Bem vamos por partes. Imagine uma teia de aranha, uma enorme que percorre todo seu corpo desde o topo da cabeça até a ponta dos pés, desde a superfície dos músculos até o interior do coração. Bom chamemos essa teia de fáscia. Ela de fato existe, ela recobre todos os músculos, as fibras musculares, as articulações, os ossos e os órgãos, são as estradas que percorrem e permitem a comunicação no corpo inteiro.

Um tecido que envolve todo o corpo, incrivelmente complexo; por tanto, a sua força e vitalidade vão determinar a qualidade da saúde. As camadas de fáscia protegem de golpes e permitem a flexibilidade e permeabilidade muscular, porém quando ela está inflamada ou em processo de cicatrização essa capacidade diminui drasticamente e isso pode acontecer por meio de traumas físicos ou emocionais.

Os estudos em relação à fáscia são recentes e as descobertas são fascinantes:

  • Ela tem 6 vezes mais neuroreceptores do que outras partes do corpo
  • Equilíbrio, coordenação e postura dependem dela
  • A transmissão da força biomecânica acontece através dela
  • Mantém unido o esqueleto
  • Faz parte da transmissão de informação entre células

Mas um dos achados mais interessantes no meu ponto de ver, é o das chamadas “ondas fasciais”, trata-se da transmissão de dor, através da fáscia, a pontos peridistantes do corpo; por dar um exemplo simples de leigo: uma contratura no pescoço poderia estar relacionada mais a um problema postural vindo do quadril do que à própria musculatura do pescoço, daqui nasce a importância de um trabalho holístico de prevenção, o que atingimos por meio da prática do Yoga, no qual é trabalhada a postura e a propriocepção de um jeito integral.

Claro que problemas existentes devem ser tratados com fisioterapeutas por meio de terapias específicas como a liberação miofacial em consultório e com elementos específicos; mas isso não descarta o valor do trabalho holístico de prevenção, assim como também a liberação de estresse emocional que acontece nas salas de aula e na prática pessoal, que assiste no processo de “digestão” de traumas emocionais.

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Aqui entra uma outra questão: o nosso corpo está diretamente relacionado ao nosso plano emocional, mental e energético. O que quer dizer que o estado das nossas emoções, pode impactar o físico tanto quanto o exercício e a alimentação podem impactar a nossa mente.

Cientificamente todo se reduz a estresse e relaxamento, sistema nervoso simpático e parassimpático. O ideal para o corpo, e para o funcionamento metabólico adequado é o relaxamento, quando estamos em estados de estresse crônico o metabolismo é reduzido num 20 a 80 por cento, tendo certamente um correlato na fáscia e portanto na musculatura, postura, órgãos e todo o que está relacionado às funções dos tecidos fasciais.

Yogis da antiguidade perceberam a particular correlação entre emoções e diversas partes do corpo. Um das referentes da metodología Yin Yoga, Bernie Clark, diz que: “o medo está centrado nos rins, a raiva no fígado, as preocupações no estômago, o medo no coração, a tristeza nos pulmões […]. quando estamos de luto temos espasmos nos pulmões (choro); quando nos assustamos o nosso coração dá um pulo; quando nos preocupamos os níveis de acidez aumentam; quando nos assustamos as nossas glândulas adrenais são ativadas. Também temos emoções positivas, como a alegria no coração, a criatividade no estômago, a beleza nos pulmões, etc”.

As posturas numa prática de Yoga trabalham o corpo tanto física quanto energeticamente, estimulando nadis e meridianos (canais de energia) associados a órgãos e produzindo respostas emocionais correspondentes quando algum bloqueio é liberado ou alguma fibra íntima é tocada.

Nesses processos é valioso pro praticante interpretar as sensações físicas e como as emoções do outro lado impactam o corpo. Por exemplo, se no meio de uma prática a emoção “medo” chega até você, é interessante perguntar: O que produz em você? Os batimentos aumentam? Os ombros se tensionam? A mente se abala?

Quando as emoções chegam no meio da prática devemos aplicar toda a nossa inteligência, entender se elas podem ser atravessadas (o yoga é sobre limites, e sobre o respeito deles) ou não; se a escolha é permanecer é bom saber que todos atravessamos experiências, você não está sozinho/a, e que talvez essa seja uma oportunidade de ouro para aprender sobre você e seu corpo.

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O poder de “cura” do Yin Yoga encontra-se na interação de 3 fatores: 

  • a permanência prolongada, 
  • a respiração e 
  • a meditação. 

Como afirma o experiente professor da modalidade Mel Young, “achar a quietude nesses minutos pode nos permitir atravessar os efeitos físicos e mentais de um processo de recuperação”.

A combinação desses três fatores nos obrigam a focar no sistema nervoso parassimpático (SNP), do qual falamos anteriormente, intimamente relacionado ao metabolismo, e que também é muito afetado em processos de recuperação e cura. O SNP ajuda a manter os batimentos cardíacos baixos, diminuir os níveis de hormônios associados ao estresse e à ansiedade e manter um equilíbrio geral.

Mas o processo mais importante acontecendo numa prática de Yin Yoga é a nutrição de uma atitude meditativa que terá efeitos muito mais duradouros do que as posturas

Hábitos negativos estão sustentados em sistemas de crenças autodestrutivos, através do relaxamento do sistema nervoso criamos modificações estruturais na comunicação do corpo pela melhora da saúde da fáscia, que naturalmente criará um equilíbrio orgânico e celular, o que finalmente levará a um estado mais calmo da mente e eventualmente a uma avaliação dos sistemas de crenças caducos ou danosos.

Nota Importante

Um professor de Yoga não é um fisioterapeuta nem psicólogo. Frente a problemas físicos recomendo agendar uma consulta com o seu médico e frente a elementos psicológicos um profissional da saúde mental é a pessoa adequada para cuidar disso. Um professor de Yoga só está habilitado a guiar práticas físicas da disciplina e cuidar de um escopo limitado de questões físicas e dinâmicas de grupo.

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