A Simbologia do Manipura Chakra

Imagina um fogo forte, um fogo tão forte que começa a queimar tudo à sua volta. Agora imagina um fogo fraco, um fogo tão fraco que mesmo ficando grudado nele é capaz de aquecer. Essas são as duas metáforas para entender os desbalances do manipura. Como está a saúde do seu fogo? Ele é funcional ou te causa problemas?

O elemento do Manipura é o fogo, principalmente pela sua qualidade brilhante. Não à toa o significado de Mani é jóias e de Pura é centro ou cidade. A cidade das jóias, o centro do fulgor, do tejas.

Localizado no abdômen, plexo solar, até o esternon é simbolizado com um triângulo apontando para baixo. O triângulo, como uma das estruturas mais firmes, rígidas e sólidas, se estabelece no centro da simbologia desse chakra. Ele aponta para baixo dando a entender uma tendência a opor forças à subida da kundalini em direção aos chakras superiores. Sinalizando, na minha opinião, nada mais nem nada menos que as dificuldades para evoluir a partir desse chakra caracterizado por ser a moradia do ego, e por enquanto, da obstinação e a teimosia. 

A agudeza do triângulo também simboliza o carácter agudo do fogo, que queima e ilumina, sendo a origem das formas (rupa).

Em volta ao chakra encontram-se dez pétalas, mais uma vez representando dez vrittis, mas também os dez aspectos da deidade dominante nesse chakra, o Braddha Rudra (Shiva Irado). As dez pétalas também simbolizam as dez pranas mais upa pranas, ou seja os diferentes jeitos nos quais a energia se manifesta e se torna dinâmica. Reforçando mais uma vez a ligação desse centro com a ação, o dinamismo, a determinação.

A partir do fogo simbólico surge a fome, a ambição, a sede, a radiância, o sono, a letargia, a imunidade. Segundo o ayurveda a nossa saúde depende da saúde do nosso agni (fogo digestivo), a nossa capacidade de assimilação. Essa capacidade não deveria se entender meramente como física ou material, ela também é intelectual e emocional.

É interessante ressaltar que o nadi Sushumna é da natureza do fogo, o nadi Pingala representa o Sol, e o Ida a Lua, a evolução da energia Kundalini depende do equilíbrio das energias solares e luares; a nossa evolução depende do equilíbrio das nossas qualidades yin e yang; um agni (fogo) saudável depende desse equilíbrio.

O bicho, “portador da mensegem”, desse chakra é o carneiro. Contrariamente às ovelhas -afirma Harish Johari-, que são de natureza gregária, o carneiro é individualista, determinado, teimoso, forte e resistente na luta: um fiel expoente da natureza Manipura.

A divindade é o Baddhra Rudra, um avatar de Shiva, Shiva na sua forma irada. Representa a energia da destruição, mas uma destruição que bem direcionada pode ser o necessário para o nascimento de um novo ciclo, a destruição é a condição da transformação.

Ele costuma ser branco ou cinza, banhado em cinzas, para lembrar o caráter transitório do corpo. Sentado numa pele de tigre e vestindo pele de tigre (o tigre representa a mente, um animal sagaz, rápido e agressivo), simbolizando o triunfo sobre a mente. O Rudram segura na sua mão direita um tridente, simbolizando a tríade de deidades mas também o domínio sobre as três energias Satva, Tamas e Rajas. Na mão esquerda ele possui um damaru, um tambor que marca o ritmo, simbolismo do tempo e dos ciclos. Adornado com cobras ele apresenta um rosto irado e não oferece bênçãos como fazem as deidades dos yantras anteriores.

A Shakti desse centro é a Lakini Devi, uma forma de Kali compassiva. Ela possui três cabeças que representam a mente (manas), o intelecto (buddhi) e o eu ou ego (ahamkara). Possivelmente possamos entender este como o centro no qual se desenvolve ou se distribui energia para essas funções -como indiquei na aula de psicologia dos chakras da Comunidade Santosha: “essa é a bateria de energia para todos os chakras”-.

A Lakini possui quatro braços:

  • O fogo da purificação, a energia do fogo, o calor corporal.
  • O abhaya mudra, o mudra do destemor.
  • Um raio (vajra) desde onde a energia emana eternamente.
  • Uma flecha apontando para cima. Indicando a direção da energia. No segundo chakra vimos que a flecha era disparada pelo desejo, nesse ponto a flecha é movida pela energia do desejo de independência, auto-realização, liberdade e autoridade.

Mais uma vez a simbologia dos chakras reforça o entendimento psicológico e dá guias para aprofundar a prática e o processo de autoanálise.

Roy Toranzo

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