O Complexo do Truman Indeciso

Será que quando chegar o dia, vamos estar preparados? Quando nos deem a possibilidade de sair do grande irmão, quando tivermos a chance de escolher entre a realidade e a aparência estaremos prontos e prontas para tomar a escolha certa? Para sermos fiéis a nós mesmos?

Sabe, um tempo atrás, gerenciando a conta de Instagram da Escola Sukha Yoga, perguntei pelo box de pergunta do stories quais os seguidores achavam que eram os hábitos da sua mente. Não fiquei muito surpreso com as respostas porque conheço um pouco a mente…tenho uma dessas também! A maioria eram pensamentos negativos ou que tinham impactos negativos ao curto ou longo prazo -se cobrar, discutir com o namorado na mente, reclamar, ficar triste, desejar até o cansaço aquilo que não temos, etc.-

Alguns dos hábitos nem sempre são considerados negativos, mas a longo prazo se tornam.

Essa semana que passou fiz algo similar no meu perfil pessoal. Só que dessa vez as perguntas foram sobre a autopercepção em relação a desafíos com possíveis desenlaces positivos:

Fiquei surpreso sim dessa vez. Até brinquei com a ideia de que as pessoas que me acompanham no meu perfil pessoal são iluminadas. Mas acho que a nossa autopercepção é muito diversa. Quando destrinchamos os pensamentos que preenchem a nossa mente somos muito autocríticos, e quando nos imaginamos frente ao desafio valoramos a nossa força e conhecimentos.

É verdade que as nossas mentes ficam presas constantemente em hábitos negativos, isso explica muitas coisas. Na aula #002 do curso Meditação Para Mentes Agitadas -que faz parte dos bônus da Comunidade Santosha- falamos do “viés negativo” da mente e entendemos como e porquê isso acontece.

No tempo da produção daquele curso lembro que fiquei lendo alguns blogs, e me deparei com a seguinte frase do filósofo francês Blaise Pascal:

“Todos os problemas da humanidade decorrem da incapacidade de o homem -e a mulher- ficar tranquilamente sozinho sentado no seu quarto”.

Sim Blaise, concordo, não sei se todos, mas a grande maioria. Isso porque a maioria de nós nunca fomos ensinados a lidar com nossos pensamentos -isso exclui as pessoas que me acompanham no insta, tá? eles estão iluminados já, essa é a minha sorte-.

Mas pra nós mortais, a nossa mente, às vezes, é como uma praia lotada no verão: crianças gritando, vendedores de mate, funk do lado, e a gente tentando lembrar porque está ali. 

Assim não surpreende a conclusão à qual chegaram 11 pesquisas psicológicas que determinaram que para a maioria das pessoas que participaram nos estúdios seria melhor receber um electroshock do que passar tempo sozinhas num quarto vazio (sem janelas, sem exercício, sem meditar, sem roer unhas, SEM CELULAR…)

Assim, às vezes escolhemos coisas que nos fazem mal ou que a longo prazo são nocivas para nós devido a que não fomos ensinados o valor que tem saber lidar com a nossa mente. Para alguns pode ser bebida, comida, televisão, conversa, trabalho, diversas formas de fugir do momento sem nada para fazer, do “domingo às 19h”.

Outras vezes temos na nossa frente o que sempre desejamos: paz; e aqui a escolha é paz ou algo que aparenta trazer prazer. Nem sempre prazer é paz, pelo geral prazer é felicidade a curto prazo e miséria no meio e longo prazo. Eu sei que frente a escolha de paz mental ou chocolate todo mundo escolhe chocolate, mas…e na escolha entre jejum e bolo? na escolha entre dormir cedo e assistir seriado? na escolha entre meditar um hora ou fofocar com amigues? na escolha entre acordar a práticas às 6am num dia frio ou dormir mais uma hora? Poderia continuar, mas acho que ficou claro meu ponto. Nem sempre a paz se apresenta como paz, e para reconhecê-la devemos ser sábios e atentos.

Assim chego ao ponto deste artigo. Saber a verdade é ao que muitos apontamos, mas nem sempre estamos prontos, às vezes somos um Truman indeciso, queremos a verdade mas quando temos a opção de sabê-la ou mesmo quando a temos frente a nós, escolhemos ignorar, é mais simples. Na maioria dos casos é mais simples.

Ficamos chorando por verdade, e quando chegamos perto dela ficamos tremendo por dentro e procurando jeitos de fugir. Isso é humano, não é motivo para se culpar. Talvez seja motivo, sim, de começar a nos preparar para quando esse momento chegar.

Dou contexto, Truman era o nome do personagem de Jim Carrey num filme chamado The Truman Show, no qual ele desde bebê tinha sido inserido numa espécie de grande irmão, ele inconsciente disso vivia a sua vida que era televisada, até que num momento percebe isso e decide se libertar dessa vida falsa…

É fácil num filme, mas nós teríamos a coragem de sair? Sem saber o que há do outro lado, tendo a certeza de que uma mudança implica algum grau de dor?

Yoga, Meditação, Filosofia, em tantos sentido são ferramentas para nos preparar para esse momento, são pontes e barcos para nos levar a esse momento e para nos ajudar a ir além. E sabe, todos nós, em algum momento, teremos essa oportunidade de nos tornar conscientes, teremos a verdade na nossa frente, mas nem todos nós estaremos prontos para olhar ele de frente, reconhecê-la, abraçá-la e ir além dela…

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